quarta-feira, 28 de maio de 2008

Fazer justiça com injustiça

Presenciei hoje, e com muita pena minha, um espectáculo verdadeiramente deprimente de mesquinhez e egoísmo puro seguido de uma verdadeira lavagem de roupa suja em praça pública. Pessoalmente nunca me incomodaram os copianços, nunca me incomodou minimamente que houvesse quem fosse sobrevalorizado quando o mesmo não se verificava em relação a mim, desde que, eu própria não fosse subvalorizada. O meu valor é o meu valor, e acima de tudo, acredito ainda que não chegarei mais longe, nem me sentirei mais realizada com sobrevalorizações, mesmo que por vezes elas possam ser-me feitas. O facto é que se estudo é porque pretendo adquirir as competências que me são necessárias para o futuro com que sonho, sejam estas de que ordem forem, e não necessariamente decorar meia dúzia de inutilidades que não me servirão de nada.
O que se passou foi que, após um teste sem qualquer tipo de valor (havia a possibilidade de nem sequer contar para a nota final) e sentindo-se comichentos pelo azar de não poder copiar aquilo que desejavam, dois colegas meus decidiram, passar por cima da professora da disciplina em questão, e baseando-se em boatos absolutamente infundados, dirigiram-se à nossa directora de turma para fazer queixinhas, pela injustiça que tinham sofrido, já que segundo o que alguém lhes tinha dito, uma suposta colega copiara descaradamente e à frente da professora (colega que por acaso se esforçara imenso para poder tirar a positiva de que precisava para concluir a disciplina, e que o conseguira no teste anterior). O que verdadeiramente este meninos reclamavam é que se a nota dela fosse positiva então também eles deveriam ter uma classificação mais elevada.
A turma indignou-se com a atitude destes meninos, e quando estes chegaram a sala, seguiu-se uma autêntica lavagem de roupa suja (sim porque os tais eram na verdade os reis do copianço, e por acaso ate tinham copiado no dito teste). Acusações pelo ar, berros e amuos. E a pobre rapariga, foi obrigada, para que não houvesse mais confusão e para calar bocas alheias a fazer outro teste, isto é, atribui-se importância a uma atitude deprimente de pisar os próprios colegas para subir, e submete-se alguém que por acaso foi apontada no meio de tantos outros, ao constrangimento de mais 90 minutos de pressão.
A atitude daqueles miúdos, nem vou comentar, e muito menos a lavagem de roupa suja. Agora, o que verdadeiramente me incomoda é o conceito de justiça, ou seja lá o que for, que surge na cabecinha de tanta gente. Quando reclamamos a justiça exigindo um inflacionar de notas, perdemos nós próprios a noção da justiça defendemos, isto porque não se resolve uma injustiça com outra injustiça. Ou seja, se eu reclamo que uma nota é mais alta do que na verdade merece ser, não posso de modo algum exigir que também a minha seja mais alta do que eu mereço na realidade. Aquilo que se pretende é que as pessoas desejem é aquilo que de facto merecem, nem mais nem menos. Isto sim é justiça. E fazer algo que não isto é ridicularizar a justiça, e mais ridicularizar o nosso trabalho e nós mesmos.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Quando (já nada é intacto)

"Quando já nada é intacto
Quando tudo na vida vem em pedaços e por dentro me rebenta um mar
Quando a cidade alucina num lugar de néon e de neblina e me esqueço de sonhar
Quando há qualquer coisa que sufoca e os dias são iguais a outros dias, e por dentro o tempo é tão voraz
Quando de repente num segundo qualquer coisa me vira do avesso e desfaz do cada certeza do meu mundo
Quando o sopro de uma jura faz balançar os dias
Quando os sonhos contaminam os medos e os cansaços
Quando ainda me desarmam a tua companhia e tudo que a vida faz em mim
Quando o dia recomeça e a noite ainda te prende nos céus braços e por dentro te rebenta um mar
Quando a cidade te esconde e o silêncio é o fundo das palavras que te esqueces de gritar
Quando o sopro de uma jura faz balançar os dias
Quando os sonhos contaminam os medos e os cansaços
Quando ainda me desarmam a tua companhia e tudo o que a vida faz em mim"

Mafalda Veiga